Carta do Tabuleiro de Russas

Antes da chegada do Perímetro Tabuleiro de Russas, vivíamos da agricultura, da pecuária, Apicultura. Plantavamos milho, feijão, mandioca, tínhamos nossas fruteiras no quintal e criávamos pequenos animais como ovinos, suínos, caprinos, bovinos e aves. A gente tinha o açude, casa de Farinha. Tudo era em pequena escala, mas o suficiente para garantir o sustento de nossas famílias, de forma constante e de boa qualidade sem o uso de agrotóxico. Antes era tudo sossego, a gente vivia feliz, mesmo com as dificuldades nos tempos de seca, tínhamos a farinhada e onde plantar e criar nossos animais e tudo que se plantava se colhia. A gente se ajudava nos momentos difíceis. Nas horas de sofrimentos tinha sempre alguém ali do nosso lado, reuníamos nas nossas festas familiares, religiosas, culturais e tradicionais a gente era feliz e não sabia.

Hoje é só destruição, o DNOCS chegou com a conversa que não tinha intenção de tirar as famílias das localidades e mesmo assim fez toda destruição, só nos pagou uma merreca e ainda precisamos lutar muito pra receber o reassentamento, o perímetro pode ser bom pra as empresas mas não pra gente porque agora só temos o direito de contemplar as grandes plantações de frutas, mas tudo a base de agrotóxico. Tem muita água nos canais, mas pra beneficiar o grande capital, que nos levaram tudo até o sossego, pois com a chegada do chamado Progresso, chegaram também pessoas de outros lugares que não conhecemos suas origens e atitudes e não sabemos se podemos confiar. Além disso tivemos que vender nossos animais e algumas famílias mudaram para periferia da cidade e não se adaptaram a nova vida, muitos adoeceram, ficaram depressivos e perderam a tranquilidade também, mais o maior impacto do perímetro é a questão da terra. A gente não tem mais direito de produzir do nosso jeito, a gente não tem mais nada.

Quando a gente ficou sabendo do perímetro a gente fez reuniões, assembleias, audiências. Tudo que a gente pode a gente fez. Foram feitos vídeos, participamos do grito dos excluídos, da Romaria da Terra. A gente levou o grito a onde a gente pode. O povo que lutava não era muito porque o DNOCS iludia o povo mas com a ajuda das entidades que deram apoio a gente avançou muito. Construimos um projeto de reassentamento que garantisse a terra de produção além da casa. O ministério público Federal enviou um antropólogo (Sergio Brissac) que fez uma nota técnica que mostrava a inviabilidade do projeto. Fizemos manifestações e acampamos no canteiro de obra.

Diante de tantos problemas, já que, não podemos mudar a realidade dos fatos, viemos todos juntos dizer que precisamos além da terra; água e assistência técnica. A gente quer produzir, como produzia antes sem agrotóxico, diferente dessa forma do perímetro. Queremos que a terra e a água seja devidamente bem distribuída.

Hoje estamos vendo, aquilo que os nossos pais e avós falavam. Chegou o tempo onde quem tinha terra se tornou sem terra e quem não tinha se tornou herdeiro da terra. Senhores, não esqueçam “os frutos a todos pertencem, a terra não é de ninguém”.

 

Participantes  da construção da carta

Jocélio Silva de Aide
Francisco Laércio da Silva
Jovelina de Sousa Silva
Francisco Juciê Xavier da Silva
Francisco Manoel Silva de Andrade
José Geivan Maia
Olivia Maria de Oliveira Sousa
Maria Ferreira de Araújo (D. Lúcia)
Francisco Jucélio Costa da Silva
Lidelena Oliveira Sousa
Aline de Sousa Maia
Maria Ribeiro de Assis
Ana Keille da Silva Lima
Osarina da Silva Lima

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